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Estávamos em um quarto triplo, mas só havia duas toalhas no banheiro. Por isso, pedimos uma toalha a mais, que era infelizmente levada embora todo dia, pois eles só repunham duas toalhas.
Certo fim do dia, estávamos esperando uma toalha que pedimos quando o Granza mandou mensagem dizendo que viria pro nosso quarto, e ele sabia que sempre pedíamos toalha. Concidiu que o rapaz que trazia a toalha pegou o mesmo elevador que ele e, no caminho até nosso quarto, Granza soltou uma pérola:
- Creo que vamos para lo mismo cuarto.
Nem imaginamos o que se passou na cabeça do funcionário do hotel nessa hora ao ouvir esse quebra-gelo.
Eu estava com 40 reais na carteira e, logo que chegamos no hotel, eu queria guardar meu dinheiro brasileiro no cofre do hotel, visto que eu não usaria ele no México. O Enzo e o João me avisaram para não fazer isso, que eu ia esquecer a senha e ia dar algum problema, ao que eu respondi que anotaria a senha.
Era tarde da noite e eu coloquei meu dinheiro no cofre e segui as instruções de como definir a senha e fechar. Dormi sem anotar a senha.
No dia seguinte, lembrei que tinha esquecido de anotar a senha e tentei abrir o cofre: não consegui, o que causou uma longa jornada de tentar obter a senha por brute force.
Eu tinha uma memória vaga sobre o formato da senha, com algumas restrições do tipo "o primeiro número estava à esquerda do segundo", "5 não aparece na senha", sem lembrar muito bem de números específicos. A partir dessas restrições, escrevemos um programa que gera todas as possíveis senhas que cabem nas restrições, porém, ao tentar a senha e errar 5 vezes, o cofre bloqueava qualquer tentativa por 15 minutos. Tentamos algumas senhas por dia durante toda a viagem, sem sucesso. Conseguimos tentar todas as geradas pelo programa, mas nenhuma delas funcionou. Eu estava convicto de que o cofre realmente não funcionava. Enzo e João acham que eu lembrei errado das restrições.
Como último recurso, no penúltimo dia de noite eu liguei para a recepção do hotel e arranhei o espanhol.
- Hola.
- Hola.
- Pueden ayudarme? La contraseña de mi caja fuerte no funciona.
- [...]
A moça da recepção falava bem devagar comigo, como se eu não fosse entender nada do que ela fala (ela estava certa).
Enfim, disseram que não havia funcionário disponível no momento. Conversei com a moça da recepção de manhã e perguntei se tinha como irem durante a tarde enquanto eu estivesse fora: tinha (eu acho), mas, quando cheguei, o cofre ainda estava fechado. Liguei de novo e disse que eu partiria no próximo dia de manhã, o que finalmente fez com que um funcionário do hotel fosse até o nosso quarto. Ele levou algumas ferramentas e, depois de alguns minutos, arrombou o cofre.
Eu acho uma pena como o Brasil fala português mas os nossos vizinhos da América Latina falam espanhol.
No dia da visita à Oracle, recebemos uma camiseta da empresa quando estávamos no auditório. Eu não sabia se o tamanho para mim deveria ser M ou G, então pedi para levar as duas para experimentar, ao que a moça que trazia as camisetas respondeu pedindo que eu devolvesse a que não servisse. Toda essa conversa aconteceu em inglês, já que eu falo pouquíssimo espanhol, e, a partir disso, com certeza ela sabia que eu sou brasileiro, porque não havia motivo de alguém de outro país da América Latina falar em inglês com ela.
Experimentei as duas camisetas e a que me serviu melhor foi a G. Mantive as duas comigo até que eu encontrasse a moça das camisetas de novo, o que aconteceu alguns momentos depois, no corredor que sai do auditório. Entreguei a que não serviu a ela.
- Obrigada.
Fui pego completamente de surpresa pela moça mexicana da Oracle falando uma palavra em português. Eu disse então o que já estava na minha mente.
- Thank you.
E logo depois ela entrou no elevador e sumiu com a caixa de camisetas.
Eric Grochowicz